segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Outras vozes outras / Otras voces otras (ii)

él me gustaba mucho

pero nunca se lo dije

porque mi criada me había avisado

si le guste un chico

nunca le diga que él le gusta

si se lo dice

él se burla de usted para siempre

los chicos son malos

yo no era guapa

ni sabia quien había pintado los Pestíferos de Java

decidi así escribirle cartas anónimas

escrebia el borrador en un cuaderno pautado

hoy no sé lo que escribia

pero sé que nunca escribi

tú me gustas mucho

y después pedía a una chica muy guapa

que pasara a limpio las cartas

yo creía que quien tenía un pelo

asi rubio y la piel fina

debría tener una caligrafia mucho mejor que la mía

ahora que cuento esto

veo que dejo muchas cosas afuera

por ejemplo que mi primero amor

no fue esto pero si Paulo

el hermano de la chica guapa

Adília Lopes

(traducción de portugués para castellano: Bruno Santos)


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Lui mi piaceva molto

ma mai glielo dissi

perché la mia tata mi aveva avvisato

se le piace un ragazzo

mai gli dica che lui le piace

se glielo dice

lui si prende gioco di lei per sempre

i ragazzi sono cattivi

io non ero bella

né sapevo chi aveva dipinto i Pestiferi di Giava

decisi così di scrivergli lettere anonime

scrivevo la brutta su un quaderno a righe

oggi non so quello che scrivevo

ma so che mai scrissi

tu mi piaci molto

e dopo chiedevo a una ragazza molto bella

di passare in bella copia gli scritti

io credevo che chi aveva

dei capelli tanto biondi e una pelle sottile

avesse una calligrafia di tanto migliore della mia

ora che racconto questo

mi accorgo che sto tralasciando molte cose

per esempio che il mio primo amore

non fu questo ma fu Paulo

il fratello della ragazza bella.

Adília Lopes

(tradotto dallo spagnolo all'italiano por: Francesca Correr)


segunda-feira, 23 de novembro de 2009


[retirada
daqui]

a partir de “o 88º dia” de Cláudia Faro Santos

se o verde

se fizer

relva


serão duas cintilações

negras que nos virão bater

à porta


cada gotícula

estará dispersa e desperta

na janela da omoplata

.

sábado, 21 de novembro de 2009


era por dentro da seiva de caramelo mais maviosa

o maior acidente ferroviário de que há memória


quinta-feira, 5 de novembro de 2009

re-volver

[poema visual publicado na Revista Oficina de Poesia nº 11]

Poemografias: de uma justaposição a uma posição justa [documentação de expo]

Poemografias: de uma justaposição a uma posição justa debruça-se sobre a discriminação de género, apropriando-se de textos dos mais diversificados tipos e nas mais diversas línguas, desde alguns textos teóricos que lançam perspectivas sobre esta realidade até textos de índole jornalística que tocam casos mais ou menos particulares.

A presente exposição é, por isso, composta por poemas que são eles mesmos uma re-apropriação de textos precedentes, de autoria vária, os quais servem de matriz respectiva e específica para cada exercício de re-escrita que acaba por culminar no produto final (mas nunca acabado¾ nem no seu processo de escrita, nem no seu processo de leitura[s]) que é cada um dos poemas apresentados e que é o conjunto de todos os poemas que constroem o corpo da exposição em si.

Os poemas que constituem esta mostra surgem aqui sob a designação de poemografias. Tal denominação, tomada de empréstimo do movimento Po.Ex, tenta reflectir sobre o carácter in-comum da formasobre a qual são apresentados os poemas, fazendo a justaposição entre os vocábulos “poema” e “tipografia”. Com isto pretende-se questionar as convenções estabelecidas no seio dos centros de poder que tentam ditar o que é e o que não é poesia (questionando indirectamente todas as formas de poder unidireccional), o como ela se faz ouvir ou se silencia (questionando a voz dita primacial e lendo não só o silêncio feito medo, mas também o caos generativo da insubmissão às práticas ditas convencionais: posição de resistência a caminho de uma hermenêutica diatópica (BSS).)

por Bruno Santos


[documentação] registo fotográfico da exposição




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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

poemografias: de uma justaposição a uma posição justa

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está patente no Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra desde hoje, 22 de Outubro, a exposição poemografias: de uma justaposição a uma posição justa.

da exposição apoiada pela organização do congresso internacional Média, Espaço Público e Género fazem parte nove poemas visuais a que chamei "poemografias", repescando um conceitovocábulo do movimento experimental português Po.Ex da década de 60, denominando os textos apresentados como "poema + tipografia".

dizer, de resto, que durante todo o dia de hoje bem como o dia de amanhã o congresso Média, Espaço Público e Género terá um sem número de mesas redondas e apresentações sobre as mais diversas e interessantes temáticas.

mais informações podem ser encontradas em
http://mediagenero.wordpress.com/

abaixo segue um exemplo de um dos poemas em exposição.




# na arte (música rock)

.a partir do ‘paper’ “I sing the body electric”: a disfonia dos pulsos e o silêncio como pauta literária de Cristina Néry e Rita Grácio

(apresentado no congresso Poéticas do Rock, FLUL, a 08.04.2009)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

o sorriso do Português Amarelo, uma posta completamente inútil versando vários temas em prosa

Talvez fume demasiado. Por vezes penso que talvez por vezes fume demasiado. A lei do tabaco que entrou em vigor já vai para dois anos bem que veio dizer “Opá, tu vê lá isso, não fumes esse cigarro, não precisas tanto dele assim.” Bem, pensando bem, o que a então nova lei do tabaco veio dizer foi “Não fumes esse cigarro, aqui e agora, não o fumas porque não deixo.” Com o acrescento “Se o dono deste espaço público me pagar, i.e., se tiver dinheiro para investir no material que o meu primo homologa lá em Bruxelas, aí, sim, aí podes fumar um cigarrito aqui e agora.”

Acho que fumo mesmo demasiado. Para estar a escrever um post sobre isso é porque, se calhar, talvez fume mesmo demasiado.

De resto, deixar um aparte que é também um balanço destes quase dois anos de lei anti-tabagista (bem sei que deveria ser uma lei de prevenção ou alerta para o tabagismo, mas não, é anti-tabagista mesmo). Se não estou equivocado, foi durante o governo Sócrates que esta lei veio à baila. E se não estou enganado, a dita lei foi um pouco uma imitação da lei que uns tempos antes havia entrado em vigor em Espanha. Bom, se não foi uma imitação, pelo menos servia-nos de exemplo, sendo que sempre vinha à tona o exemplo espanhol que nos dizia que um grande número de tabagistas tinha deixado de fumar por causa desta lei e os hospitais já começavam a receber menos gente com problemas relacionados com o consumo de tabaco e bla bla bla.

Agora que talvez o José não fique no poder, não me parece haver grande esperança de ver lei abolida. Também, sinceramente e a bem dizer, de um ponto de vista prático, não me faz qualquer diferença.

O que me não me causa indiferença de todo é saber o que pensará a Manuela disto tudo. Se ficar ela no poder, será que vai proibir o cigarro no espaço público de vez? Ou será que vai proibir o cigarro e ponto final (não entra sequer nas nossas fronteiras, fica do lado de lá, do lado do espanhóis, pode ser que eles revoguem o seu mandamento do “não fumarás” e fumem tudo o que vinha cá para o big burgo e, olha, morram para aí.)

O pior será se a Manuela nos obrigar a todos/as a fumar o tabaco do antigamente: Português Amarelo. Será ainda pior se, acrescido a essa obrigatoriedade, nos deixar fumar somente um determinado número de cigarros por dia. Pior, só se nos proibir fumar de todo. É que, pode parecer idiota e, quem sabe, até um tanto supérfluo, mas é que, às vezes, quando sinto que necessito mesmo um cigarro, por stress ou por não fumar há muito, advirto novamente que pode parecer um comentário tonto e desnecessário, mas é que, dizia, quando fumo esse cigarro, sinto-me mesmo livre.

domingo, 13 de setembro de 2009

Outras vozes outras / Otras voces otras (i)


EL DOMADOR DE LUNAS


estamos apoyados a una autocaravana bebemos sangría

charlamos mientras quemamos la noche

junto al mar

el viento fresco sorpréndenos con las manos nerviosas

en rededor de los vasos empañados la ternura de una mirada

no basta para iludir la embriaguez de los amores imperfectos

sé que posees todavía alguna juventud en ese sonriso

yo ya solamente emborracho los labios viciados por las palabras

poco tengo que decirte

tocote en el hombro hago promesas y tú reís

mientras descubrimos en el silencio cómplice del vino

que los dedos se enlazarán unos en los otros y sobre la piel

tiembla una tela de luminoso sal donde la noche cae

sobreviviremos al desgaste del amor

bebemos más

para que exista solo deseos y no amor entre nosotros y

el chico que tiene manía de espetar un cuchillo rubio

en el hombro del mar

La vie est une gare, je vais bientôt partir,

je ne dirait pas où.

me callé

sabiendo que me conducirías a casa por el camino de la playa

tambaleantes

y mientras yo no conseguir abrir de nuevo los ojos

no partirás estoy seguro

con tu jaula llena de lunas mansas

apaciguadas

Al Berto

(traducción del portugués para castellano: Bruno Santos)


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IL DOMATORE DI LUNE

Stiamo appoggiati a un camper beviamo sangría

parliamo mentre bruciamo la notte

accanto al mare

il vento fresco ci sorprende con mani nervose

attorno ai bicchieri annebbiati la tenerezza di uno sguardo

non basta per ingannare la sbronza degli amori imperfetti

so che possiedi ancora una qualche gioventù in quel sorriso

io ormai solamente ubriaco le labbra viziate dalle parole

ho da dirti poco

ti tocco sulla spalla prometto e tu ridi

mentre scopriamo nel silenzio complice del vino

che le dita si intrecceranno le une nelle altre e sulla pelle

trema una tela di luminoso sale dove la notte cade

sopravviveremo al logorio dell'amore

beviamo di più

perché esista solo desiderio e non amore tra di noi e

il ragazzo che ha la mania di infilzare un coltello biondo

nella spalla del mare

La vie est une gare, je vais bientôt partir,

je ne dirait pas où.

Mi zitiii

sapendo che mi avresti condotto a casa per la via della spiaggia

barcollanti

e mentre io non riuscirò più ad aprire gli occhi

non te ne andrai sono sicuro

con la tua scatola piena di

lune mansuete

riconciliate

Al Berto

(tradotto dallo spagnolo all'italiano por: Francesca Correr)

Legislativas 2009

O Sócrates gosta muito de levar no cu
O Louçã nem por isso
O Jerónimo dá-lhe mais para ir
O Portas emociona-se e não consegue acabar.

O Sócrates
Em podendo fazia-o mais de uma vez por dia.
Ficavam-lhe os olhos Brancos
E não falava, mordia. O Louçã
É mais por causa da fotografia
Das árvores altas nos montes perto
Quando passam rapazes
O que nem sempre sucedia.

O Portas o seu maior desejo desde adulto
(Mas já na tenra idade lhe provia)
Era ver os hètèros a foder uns com os outros
Pela Seguinte ordem e teoria:
O Jerónimo no chão, debaixo de todos (era molengão
Em não se tratando de anacreônticas) introduzia-
-Se no Portas até à base
E com algum incómodo o Portas erguia
Nos Pulsos a ordem da Kabalia
Tentando passá-lo ao Louçã
Que enroscado no Sócrates mordia mordia
E a mais não dava atenção.
O Sócrates tentava
Apanhar o membro da Ferreira Leite
Que crescia sem parança em direcção ao espaço
E era o que mais avultava na dança
Das pernas do maço da heteronomia
A que aliás o Sócrates era um pouco emprestado
Como de ajuda externa (de janela do lado)
Àquela endemonia
Hoje em dia moderna e caso arrumado.

Formando o quadrado
Era quando o eleitorado aparecia.
«Iô Pan! Iô Pã!», dizia,
E era Felatio para todos
E Pão de ló molhado em malvasia.


a partir de poema de Mário Cesariny
In «O Virgem Negra - Fernando Pessoa explicado às criancinhas naturais e estrangeiras por M.C.V.»

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Poema colectivo do colectivo dos Cornud@s (performatizado no Andanças2009, Carvalhais, S. Pedro do Sul, Viseu, Portugal, Europa, Mundo, Via Láctea)

vai de lebre de vagar

cadáver um grandessíssimo ar cheio de moscas

para abrir altar

os sumérios eram somas das sombras até

acordar

cheio de penas

cheio de moscas

me levanto

pipistrello pistacho frente ao mar

faminto o silêncio da língua áspera à espera

no silêncio da sua morte a espaços de íris e tenazes

uma lâmpada a perguntar pela Maria Amélia três vezes

imacula-se o maxilar aos pássaros

e faz-se uma sopa

uma só esponja faz família de toda a ruína

defenestrar uma cavilha entorna o córtex

não há mais medula

e os chineses vendem aquilo tudo

a fritura vem calafetar de melaço

a sua merda a sua repugnância

a sua ânsia belo estrume

invisível a noite pelo tratamento da sombra

is a writer isto sim é

escrever

para os trinta anos de cócoras

em Agosto o amendoim e agora não tens brinquedos

só coisas importantes: arrebanhar a caruma como retalhos em aglomerado contra

os fardos

já adulteraste hoje?

porque os nenúfares treinam a sua sensualidade na lua

salga na caruma narinas

o estágio da erudição ascendente

Agnese, Bruno, Cristina, Paulo, Porfírio, Rita

domingo, 9 de agosto de 2009

Política da língua

"En Primaria, gran parte das familias (un 49,4%) opta por algún tipo de ensino bilingüe, sexa indistintamente nas dúas linguas ou ben sexa con tendencia maioritaria cara a unha delas. Fronte a isto, un 37,4% dos consultados elixiría un ensino completamente castelán e un 12,5% optaría por dar todas as troncais en galego. Unha tendencia moi similar á de como deberían realizarse as probas orais ou escritas.

En Secundaria, un 46% prefire que se cursen as troncais de forma repartida entre as dúas linguas mentres que o resto opta por ensino monolingüe, sexa exclusivamente castelán (33,8%) ou todo en galego (19,8%).

Nos ciclos formativos, a maioría dos consultados (un 52%) opta por un emprego das dúas linguas en todas as materias, unha opción maioritaria que se mantén tamén para os libros de texto e o material escolar.

Onde existe unanimidade é na consideración positiva de que se impartan contidos en inglés. Ao seu favor están o 91,5% das familias de Educación Infantil, o 75,2% dos de Primaria, o 63% de Secundaria e o 63% de Formación Profesional."

notícia na íntegra aqui
dossier completo Consulta ás familias sobre a utilización das linguas no ensino non universitario de Galicia aqui

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Merce Cunningham

Bailarino e coreógrafo Merce Cunningham morre aos 90 anos
27.07.2009 - 15h33 Sérgio C. Andrade
Merce Cunningham, o lendário coreógrafo que revolucionou a dança moderna, morreu ontem, em Nova Iorque, aos 90 anos. “É com grande pesar que anunciamos o desaparecimento de Merce Cunningham, que morreu tranquilamente em sua casa, de causas naturais”, dizia o comunicado emitido pela Cunningham Dance Foundation e pela Cunningham Dance Company, que o dançarino e coreógrafo nascido em Centralia, Washington, em 1919, tinha formado no Verão de 1953.

Com a sua companhia, Cunningham marcou a evolução da dança, estabelecendo uma relação muito particular com as artes plásticas e com a música contemporânea, nomeadamente com a obra de John Cage, com quem começou a trabalhar em meados da década de 40, numa parceria que só viria a terminar com a morte do compositor americano, em 1992.

“Merce revolucionou as artes visuais e performativas, não em busca da iconoclastia, mas da beleza e maravilhamento que decorrem da exploração de novas possibilidade”, acrescenta a nota.

Ainda que remetido a uma cadeira de rodas, Cunningham tinha feito, no início do mês de Junho – já depois de ter celebrado o seu 90º aniversário, a 16 de Abril –, o anúncio do programa que decidira preparar para a sua companhia no West Village de Nova Iorque, para quando ele não a pudesse dirigir pessoalmente, ao então para depois da sua morte: realizar uma última digressão mundial de dois anos e, depois, extinguir-se.

“Tenho tido sempre na minha cabeça o movimento físico do ser humano”, disse o coreógrafo no momento do anúncio dessa tournée, a que deu o título Herança Viva.

“A carreira de Merce caracteriza-se pelo seu desejo constante de ultrapassar fronteiras e de explorar novas ideias”, disse também nessa altura Trevor Carlson, director executivo da Fundação que tem o nome do coreógrafo que chegou a ser designado o “Nijinski americano”.
Fonte: Público Online

quarta-feira, 15 de julho de 2009


media
noche

fabrica de
posibilidad

lámpara de carburo

hule otro de labios escritos

hermetica de los candelabros

e x t e n d e n d o s e

en la propedeutica
de su carburador

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Coimbra É Uma Cabra (E Não Passa Disso)


[
Monogram, 1955-59, de Robert Rauschenberg
(Oléo, papel, tecido, papel e reproduções impressas, metal, madeira, tacão de sapato de borracha, bola de ténis sobre bode angorá e pneu de borracha sobre plataforma de madeira montada em quatro rodízios, 106,7 x 160,7 x 163,8)
]

quarta-feira, 1 de julho de 2009

P.

[Poemetálico]
[.exPoeriência númerUm]


[- P.metálico,
porcas, buchas, parafusos de várias dimensões,
cabos eléctricos carnados e descarnados,
clip]

domingo, 14 de junho de 2009

Contra la discriminación de género.


em novembro de 2008 participei na convocatória "CONTRA LA DISCRIMINACIÓN DE GENERO", organizada pela Boek 861, com um poema visual da minha autoria e do qual havia perdido registo.

voltei a encontrá-lo, agora, online, na mostra organizada com todos os trabalhos enviados.

poderão consultar essa mostra seguindo este link. o "m@chismo", esse, segue abaixo.



bruno ministro dos santos
(portugal)


quinta-feira, 11 de junho de 2009

Hiperficção.

a Hiperficção é uma forma literária/poética que se encaixa no fazer maior que é a ciberliteratura.

está inerente a este género de escrita um diálogo intersemiótico entre a literatura/poética e os novos meios digitais, concretizada através da exploração em parceria da linguagem textual e da linguagem hipertextual, isto é, do código html.

este género trabalha principalmente sobre o conceito de que o texto (todo o texto) é um labirinto onde se perde o/a leitor/a e cujos signos que o formam sempre remetem para universos paralelos criados labirinticamente na leitura de cada seu produtor/re-construtor.

há que dar especial ênfase a este seu carácter interactivo, isto porque o surgimento da hiperficção serve também como uma das formas de disrupção para com uma ainda passadista concepção do processo de escrita e, por contiguidade, dos processos de leitura e interpretação. deve ser sublinhado que o que este género traz verdadeiramente de novo a esse processo de leitura de que falamos é, a meu ver, um restabelecimento da "verdade" (ou das "verdades", múltiplas em suas variantes de falsidade) acerca do que é o texto, do que é a escrita do texto e do que é a interpretação do texto, bem como de um re-pensar do papel do autor e do leitor, por extensão à mudança de paradigma do conceito "texto". sublinha-se, além do mais, que aqui o conceito de "interpretação" não deve ser entendido como sinónimo de descodificação de uma matriz portadora de uma mensagem única e atingível, mas sim como amplo conceito que engloba todo e qualquer processo de construção de tangíveis leituras, múltiplas e tecidas por e segundo cada leitor/a.

se o projecto de poema hipertextual que eu e o luís belo concretizámos em "pestana de fogo: linfócito" vai neste preciso sentido prático-teórico, há que realçar que nunca foi por nós tido como estando ligado a um conceito completamente novo e nunca produzido, uma vez que a própria hiperficção é um género explorado faz já algumas décadas. não deixa contudo de ser, defendemos, uma obra pioneira se tivermos em conta as instituições convencionais em que ainda se movimenta (movimenta?) a poética "tradicional".

abaixo apresento, em intuito de troca interintelectual, alguns exemplos de projectos dianteiros nestas áreas. O nosso, como pioneiro que não deixa de ser, até porque tudo quando é feito (poesis) é sempre, concomitantemente, algo de novo e algo repetido. não obrigatoriamente algo repetitivo.

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victory garden
1995.
de stuart mouthrop

my body
1997.
de shelley jackson
http://www.altx.com/thebody/

reagan library
1999.
de stuart mouthrop

millennium buggery
2000.
de ernesto sarezale

contravórtice
2002.
de márcio-andré

triptych
2002.
de peter howard
http://www.cam.net.uk/home/aaa021/kettles/peter/triptych.htm

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sábado, 6 de junho de 2009

fragmento de ensaio que acaba de ser cortado do corpo desse mesmo ensaio, escrito com o sono já a bater de chapa.

"Que “todo o texto é político” isso já sabemos. Que a Po.Ex teve de “lutar contra uma tradição de lirismo sentimental, confessionalismo, preguiça, incultura, atraso, instalação e tudo o mais que traduzia o estado de decrepitude e estupidificação da sociedade onde se queria implantar”, surgindo “como uma verdadeira ameaça aos valores burgueses da cultura” também nos é fácil imaginar. O que eu pessoalmente não entendo é como se pode permanecer neste cinzentismo académico em que vivemos, tentando ignorar (ou ignorando de facto, por ignorantes que somos e que queremos continuar a ser para não ter trabalho que isso cansa muito e amanhã tenho que me levantar outra vez), dizia, tentando ignorar o que se fez com o texto, com o corpo do texto, o que o texto fez o seu corpo, o que o poema deu ao texto universal que é a literatura ainda com tantos caminhos para percorrer, ainda com tantas formas de correr esses caminhos. O problema é que está nas mãos do poder instituído o reconhecimento e até certo ponto (infelizmente muito forte) o próprio conhecimento desses caminhos. É que nem todos temos GPéSes. E às vezes o caminho esburacado dá-nos uma trabalheira danada para percorrer. E se bate o sol de chapa, queima os pés, porque às vezes vamos descalços. Outras, às apalpadelas. De quatro. O que pode ser uma escolha. Nem todas as imagens convencionais e/ou convencionadas têm que ser o que o discurso primeiro diz que elas são."

quinta-feira, 4 de junho de 2009



“pestana de fogo: linfócito” é um poema hipertextual que surge como produto de um projecto multidisciplinar concebido em regime colaborativo pelos artistas luis belo e bruno santos.

através da exploração de uma linguagem interdisciplinar e multimídia que se vai fundar nos alicerces da poesia experimental e do design e artes plásticas, “pestana de fogo: linfócito” pretende criar uma linguagem híbrida e fundacionalmente labiríntica, condizente, de resto, com aquilo que os autores defendem ser a natureza do próprio Texto (seja ele composto por signos linguísticos, por signos pictóricos ou pela matéria híbrida que aqui se pretende projectar).

a proposta deixada aos/às leitores/as (também eles/as em regime de colaboração para criação da obra “final”, através da interactividade exigida) é, então, a de construção do seu próprio cosmos poético através da escolha de caminhos a seguir no deambular pelo corpo do poema que se vai desdobrando, mediante a interacção com o leitor-criador, em múltiplos e sucessivos universos paralelos.

 

pelos artistas de ignição      

:     

luis belo     

bruno santos     


link directo para o poema sobre a imagem e também aqui.

 

domingo, 31 de maio de 2009


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"desconfio que
se disser mar
em voz alta
o mar
entra
pela janela"