quarta-feira, 23 de setembro de 2009

o sorriso do Português Amarelo, uma posta completamente inútil versando vários temas em prosa

Talvez fume demasiado. Por vezes penso que talvez por vezes fume demasiado. A lei do tabaco que entrou em vigor já vai para dois anos bem que veio dizer “Opá, tu vê lá isso, não fumes esse cigarro, não precisas tanto dele assim.” Bem, pensando bem, o que a então nova lei do tabaco veio dizer foi “Não fumes esse cigarro, aqui e agora, não o fumas porque não deixo.” Com o acrescento “Se o dono deste espaço público me pagar, i.e., se tiver dinheiro para investir no material que o meu primo homologa lá em Bruxelas, aí, sim, aí podes fumar um cigarrito aqui e agora.”

Acho que fumo mesmo demasiado. Para estar a escrever um post sobre isso é porque, se calhar, talvez fume mesmo demasiado.

De resto, deixar um aparte que é também um balanço destes quase dois anos de lei anti-tabagista (bem sei que deveria ser uma lei de prevenção ou alerta para o tabagismo, mas não, é anti-tabagista mesmo). Se não estou equivocado, foi durante o governo Sócrates que esta lei veio à baila. E se não estou enganado, a dita lei foi um pouco uma imitação da lei que uns tempos antes havia entrado em vigor em Espanha. Bom, se não foi uma imitação, pelo menos servia-nos de exemplo, sendo que sempre vinha à tona o exemplo espanhol que nos dizia que um grande número de tabagistas tinha deixado de fumar por causa desta lei e os hospitais já começavam a receber menos gente com problemas relacionados com o consumo de tabaco e bla bla bla.

Agora que talvez o José não fique no poder, não me parece haver grande esperança de ver lei abolida. Também, sinceramente e a bem dizer, de um ponto de vista prático, não me faz qualquer diferença.

O que me não me causa indiferença de todo é saber o que pensará a Manuela disto tudo. Se ficar ela no poder, será que vai proibir o cigarro no espaço público de vez? Ou será que vai proibir o cigarro e ponto final (não entra sequer nas nossas fronteiras, fica do lado de lá, do lado do espanhóis, pode ser que eles revoguem o seu mandamento do “não fumarás” e fumem tudo o que vinha cá para o big burgo e, olha, morram para aí.)

O pior será se a Manuela nos obrigar a todos/as a fumar o tabaco do antigamente: Português Amarelo. Será ainda pior se, acrescido a essa obrigatoriedade, nos deixar fumar somente um determinado número de cigarros por dia. Pior, só se nos proibir fumar de todo. É que, pode parecer idiota e, quem sabe, até um tanto supérfluo, mas é que, às vezes, quando sinto que necessito mesmo um cigarro, por stress ou por não fumar há muito, advirto novamente que pode parecer um comentário tonto e desnecessário, mas é que, dizia, quando fumo esse cigarro, sinto-me mesmo livre.

2 comentários:

  1. Caro Ministro dos Fumícios,

    Realmente partilho contigo a opinião de que há qualquer coisa que se aproxima de uma ideia de "liberdade" no acto de fumar um cigarr(inh)o. Mas o mais interessante é que quando me perguntei "mas porque raio é que um gajo tem prazer a fumar isto?" acabei por deparar-me com um numero infindável de hipóteses:

    Porque é um hábito? uma rotina? Algo com que podemos sempre contar e que, por isso, serve para ordenar a nossa experiência - que poe virgulas num fluxo de outro modo desordenado? Porque é um acto de imitação - uma performance? Uma forma de poder, talvez? Uma forma de pertença a um "grupo" que tem vindo, progressivamente, a ser ostracizado por muitos - ainda que nao pelas tabaqueiras, nossas amigas de peito. Porque é, afinal de contas, um bem de consumo, como um chocolate ou - o eterno placebo - como uma pastilha elastica? Um prazer perpetuamente anti-climático que nunca se esgota (nem que se tenha de cravar à pessoa ao lado)? Porque é, através do fumo ou do contacto com o "corpo" do cigarro, evocativo de um espaço sublime de fluidez, aleatoriedade e multiplicidade de formas? Um prazer sexual, portanto?

    Não faço a mínima ideia - mas sei que é precisamente por isso que o cigarro é um individuo (e porque nao uma endivida?) tão misterioso e sorrateiro. E fumemos nós um ou milhentos, a verdade é que continua a enfeitiçar a nossa curiosidade.

    Visto isto, vou mas é fumar mais um.
    J.Guimaraes

    ResponderEliminar
  2. Esta história do tabaco dá pano para mangas.

    Não sou fumador, de modo que a lei me agradou na medida em que não estou constantemente a apanhar com o fumo do tabaco.
    No entanto, esta lei é um atentado à liberdade de cada um, e faz lembrar um tanto o apartheid.
    Pessoalmente, acho o tabaco uma droga como qualquer outra. Ou são todas proibidas, ou todas legalizadas. E, anarquista como sou, vejo-me obrigado a apoiar mais a segunda hipótese.

    Não que qualquer das coisas que me afecte, quando (se) me apetecer experimentar tabaco ou qualquer outra droga, fá-lo-ei sem grandes dificuldades. Seja permitido ou não.

    ResponderEliminar